sexta-feira, 28 de maio de 2010

a mística do poder

Criaram uma aura mística em torno da bíblia.
Pra começar, é importante lembrar que a bíblia não é um livro único, mas uma compilação de 66 livros pré selecionados. A história de forma simplificada é mais ou menos assim - Haviam os rolos que os judeus usavam - a Torá e mais alguns escritos proféticos e depois de Jesus, passou a circular uma série de escritos que, de acordo com a perspectiva do autor, contavam seus atos. E não eram poucos, eram muitos. Muito mais do que os inclusos na bíblia. Os excluídos foram taxados de apócrifos ou gnósticos e os inclusos - canônes.
O processo de seleção é uma história a parte, onde claro, não deixou de envolver jogos políticos e outras influências, tudo extremamente controvérsial, mas este não é o tema agora.
O que proponho neste ensaio não é discutir a inspiração ou canonicidade da coleção que é comercializada e distribuída há séculos. Foi colocado que o livro é sagrado, vem de Deus e isso confere um 'certo poder' a quem "diz" compreende-lo.
Vendem a idéia de que para entender o livro é necessário ter proximidade com o autor (Deus no caso) e que isso não é para todos. Ou seja, quem maneja o livro é amigo íntimo do cara mais poderoso do universo. E de acordo com quem o apresenta, Deus pode ser um ser misericordioso para com os mansos ou implacável para com os infiéis. E aí, vai encarar?
Enfim, há essa aura mística - o livro foi inspirado por Deus e só quem é intimo Dele e possui o seu espírito santo é capaz de compreende-lo. Se você não pertence a tais - Curve-se!
A pergunta é - e quem dá tal poder? O próprio livro dá o poder. O próprio livro se explica. O próprio livro diz que é de Deus. Mais ou menos assim -
O livro é inspirado por Deus - porque o próprio livro diz isso.
O livro só pode ser compreendido por quem tem o Espírito Santo - O livro diz isso.
Não existem provas externas para comprovar isso, a coisa é assim porque é assim e pronto, foi montada para ser dessa forma.
Sem querer entrar nos detalhes da escrita de cada um dos compêndios que compõe a bíblia, vamos ater à questão do poder. As classes clericais usam-no para manipular as massas. Aproveitam das historias que falam de pessoas escolhidas, pessoas condenadas, julgamentos divinos, milagres, esperança para futuros distantes (tão distantes quanto o pós vida, quer algo mais intangível que isso?), fogo caindo dos céus, agua inundando o mundo, terra engolindo pessoas, feras atacando criancinhas, pessoas que ressurgem da morte, profetas que voam, pessoas que vencem a morte, animais falantes (no mesmo estilo das Crônicas de Nárnia), promessas de pessoas que virarão anjos, tortura eterna, recompensas, leis e códigos penais etc., para impor medo, temor e submissão.
Como disse, nesse post não quero questionar a veracidade de nada, mas expor que alguns espertos aproveitam dessa aura mística do livro e impor poder e medo aos que não compreendem o livro. O poder é construído pela mistificação e também por criarem simbolismos e significados incompreensíveis a simples relatos. Outro nome para isso? - Religião!
Religião traduz bem essa questão - um livro sagrado, um grupo que diz ter o espírito santo para compreendê-lo e na outra ponta um grupo que teme toda essa pompa e segue sem questionar.
Onde você se posiciona?
Não, não há obrigação de estar entre as pontas. Pode estar apenas em um ponto externo, observando, sem interferir e vendo mestres e escravos do livro.


O melhor do livro é que ele mesmo diz - "Homem tem dominado homem para o seu próprio prejuízo" - Jeremias.