sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Post 15 - Religiosidade x Espiritualidade

Religiosidade e Espiritualidade são conceitos e estilos de vida totalmente diferentes e uma coisa não tem nada que ver com outra, embora muitas pessoas as confundam.
A confusão existe, até mesmo porque há diferença de opiniões entre autores.
Mesmo que o leitor deste post não concorde com o significado que darei às palavras, concordará (talvez) com o conceito que as difere, embora dê outros nomes às palavras.
Em primeiro lugar, entendo por Religião como um grupo de pessoas que segue a algo, geralmente dentro do conceito metafisico ou divino e que, segue isto através de ensinos de mestres ou livros sagrados.
E defino por Espiritualidade a relação direta entre o individuo e suas crenças personalizadas.
A pessoa religiosa pertence a um grupo social que padronizadamente acredita nas mesmas coisas, cumpre ritos e obrigações semelhantes, em alguns casos possuem formas de falar e vestir semelhantes. O religioso possui agendas e obrigações.
Em outras palavras, a pessoa religiosa é aquela que:

vai à igreja ou templo
participa de ritos, cantos e orações
financeiramente ajuda na obra
doa seus serviços na manutenção do templo
participa de obras sociais desenvolvidas pela religião
apega-se a ícones ou escritos sagrados
divulga a mensagem a outros
segue a mestres

Neste ponto, abro parenteses para explicar a palavra "Mestre". Tanto podemos chamar de mestre àquele que da frente do púlpito ensina aos demais, e isto poderia ser um padre, pastor, ancião, sacerdote, rabino, etc., ou àquele que deu origem aos ensinos e escritos.
Este é muito mais interessante, aqui estamos falando de MESTRES que não seguiram a ninguém, mas que criaram suas "verdades" de dentro de sistemas que ja eram sólidos, estabelecidos, porém apresentavam falhas enormes. Muitos mestres vieram de rupturas, e neste caso temos -
Moisés saindo do Egito
Jesus saindo do Judaismo
Maomé saindo e unificando as tribos nomades
Sidarta Guatama saindo do hinduismo
Lutero saindo do Catolicismo
Russel saindo do Presbiterianismo
Darwin saindo do Criacionismo
... e a lista poderia tender ao infinito, tanto de pessoas que criaram cismas e rupturas arrebanhando discipulos, quanto àqueles que sairam de sistemas e foram mestres apenas para si proprios*.

Vamos separar um bem de um mal intencionado mestre. Ambos, depois de analise e pesquisa alcançaram um estagio que era superior aos seus contemporaneos. Mas o que a maioria deles conseguiu foi desatar os nós de um sistema opressor e tentar dar liberdade a outros. Por um incrivel mau entendido, os seus discipulos diretos, partiram a divulgar aquele ensino que acabava de aprender. E em pouco tempo, escritos, escolas, historias, entendimentos e analises eruditas sobre os fatos, comparações, institucionalizações de ritos... e tudo aquilo que o mestre havia quebrado, voltava à tona como sendo a vontade dele.
Vamos considerar o exemplo de Jesus - Ele viveu numa época em que o sistema religioso judaico escravizava a mente e o corpo das pessoas, havia cargas pesadas, regras, leis, templos que exigiam sacrificios, etc.. Jesus quebrou toda aquela religiosidade e ensinou que a adoração a Deus deveria basear-se em Amor e Fé. Uma vida de Amor ao proximo e a Deus. Quem ama é justo e bom. No amor reside a sabedoria. Pronto, ele sintetisou tudo.
Logo apos sua morte, começaram os escritos sobre sua vida e palavras, e ali começou a ser institucionalizado a Religião. Novos ritos e obrigações foram criados. Ele havia dito que era o intermediador entre Deus e os homens e que, o corpo era o templo de Deus. O Templo judaico caiu nas mãos dos romanos em 70 E.C.. Na sequencia o que houve? Criaram novas classes sacerdotais, com padres e diaconos, sacerdotes, sacrificios e transformaram suas palavras em novos mandamentos e fizeram regras a partir disso.
Qualquer religião que possua uma estrutura sacerdotal, por mais simples que seja, já esta colocando um novo Rabi (ou mestre) na posição de Jesus.
Lutero vendo isso resolveu quebrar este sistema e... institucionalizou outro. E quem veio depois dele, botou novas regras e novas interpretações.
O mesmo ocorreu com Buda. Simplificou totalmente o sistema religioso de sua cultura e epoca, mostrou que a iluminação so dependia da propria pessoa. Hoje, basta ir a um templo budista para ver que a historia mudou.
Todas as regras que foram quebradas ou simplificadas pelos verdadeiros mestres, vieram outros e recriaram-nas tal como existia antes.
Basta observar que o clero catolico é tão complexo (ou mais) que a estrutura judaica, e que a estrutura protestante, embora simplificada, também possui hierarquias.
Na relação hindu-budista, idem.
Dentro das Testemunhas de Jeová, idem.**
Toda religião se organiza em niveis hierarquicos e dessa forma, quem quiser participar de uma Organização Religiosa, tem de se adequar ao sistema. Isto é ser Religioso.

A pessoa Espiritualizada segue a linha do mestre. É aquele que, quer por estudos ou pela propria observação, cria seu proprio caminho. Sabe que o seu encontro com o divino ou consigo proprio, não depende do ensino de outros ou de alguma instituição, mas apenas de si mesmo.
Outro ponto comum entre o Bom Mestre e a Pessoa Espiritualizada é que nenhum dos dois tenta impor regras ou ensinar o passo a passo caminho através de milhões de regras.
O verdadeiro mestre não ensina o caminho, apenas aponta a direção.
Confirme isso analisando os ensinos de Jesus, Sidarta, Darwin, Moises, Russel, Maomé, Lutero, Osho e quem mais voce quiser. Quem apontou e quem tentou ensinar o caminho?
Quem tentou ensinar um caminho, caiu na vaidade de ser lider. Trilhou pela arrogancia.
Cada um de nós tem um caminho a seguir, e formas diferentes de trilhar, ver, analisar, aprender, discernir, pisar, compreender, extrair o que há de bom, necessidades...
E a espiritualidade é isso - Conhecer a si proprio e conectar ao que há de mais divino.

Apenas apontando o caminho - Tanto Jesus quanto Buda ensinaram aos seus discipulos que -
O caminho esta dentro de nós.
Pessoas enganam pessoas.

Resumindo -
Religiosidade é seguir e
Espiritualidade é conhecer-se!




*Talvez alguns discordem disso, alguem ser Mestre de si proprio, pois o titulo de mestre so pode ser dado a alguem por um ou mais discipulos, a palavra mestre remete à ação, ser mestre de ou mestre para, então para evitar a colocação de um novo termo, chamo aqui de 'mestre de si proprio' aquele que deixar de seguir a outros e faz seu proprio caminho.
**Possuem um Corpo Governante em Brooklyn, NY, USA, que determina os ensinos a serem divulgados, filiais em diversas partes do mundo, e congregações onde geralmente possuem Ancião Presidente e outros anciãos para as demais responsabilidades, Servos Ministeriais que os auxiliam na pregação interna. Para os serviços externos de pregação ha uma hierarquia de Pioneiros especiais, regulares, auxiliares e publicadores (estes apenas divulgam a religião, não possuem voz ativa na congregação). E ainda possuem na estrutura Superintendentes viajantes, missionarios, servos de zona, etc.